Nossa história

HISTÓRICO DA DISCIPLINA DE OBSTETRÍCIA E DO CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM OBSTETRÍCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA – UNIFESP/EPM 

A Disciplina de Obstetrícia na Escola Paulista de Medicina, teve início em 16 de março de 1938 com a aula inaugural – “Considerações Gerais sobre a Obstetrícia“ – proferida pelo professor Álvaro Guimarães Filho, seu primeiro catedrático e fundador desta escola médica. Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1924, teve seus estudos complementados em renomados centros obstétricos da Europa, em Paris, Viena e Berlim, vindo a fazer posteriormente o concurso de Livre Docência, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 

Na Escola Paulista de Medicina exerceu ainda o cargo de Diretor por 10 anos, período em que comandou a construção do Hospital São Paulo, inaugurado em 1943. O professor Guimarães, além da atividades no setor de ensino, foi responsável pela formação de uma plêiade de especialistas, que se mobilizaram, quer na carreira profissional, quer na universitária, foi, também, um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, e da Sociedade Latino Americana de Obstetrícia e Ginecologia. 

Membro Efetivo de inúmeras Sociedades Internacionais e Membro Emérito da SIGO, projetou com sua personalidade e seu idealismo a Obstetrícia Brasileira no campo do ensino e da pesquisa. Em janeiro de 1966, afastou-se da Cátedra, atingida pela aposentadoria compulsória, e, em 1970, em reconhecimento aos notáveis serviços prestados à medicina brasileira, foi agraciado com a Ordem do Mérito Nacional, concedido pela Presidência da República. 

De início, a Obstetrícia exercia as suas atividades no “Pavilhão Maria Tereza”, com os Serviços de Pré-Natal, duas enfermarias com oito leitos cada, uma sala de partos, outra de cirurgia e um berçário. Nessa época, iniciou também suas atividades docentes, como primeiro assistente nomeado, o Dr. Arthur Wolf Neto. Este, nos trouxe a valiosíssima contribuição do Professor Domingos Delascio, que por toda a sua vida, tornou-se um “azougue” das disciplinas de reprodução humana, tendo posteriormente atingido o grau de Docente Livre tanto em Obstetrícia como em Ginecologia. Também, foi nomeado Assistente Ramiro de Araújo Filho, então cursando o 6o ano, portanto, da primeira turma formada na nossa escola médica. Devemos nos lembrar, ainda, do Professor Francisco Cerruti, proveniente da Disciplina de Cirurgia, e já Livre Docente, e do incansável Professor Emilio Mastroiani, oriundo da 48 turma, que permaneceu em atividade didática e assistencial desde 1941 até algum tempo após sua jubilação como Professor Adjunto. 

Ao se formar em 1942, na 5ª turma, o Professor Henrique Paraventi já fazia parte, desde o ano anterior, ao quadro de docentes de Obstetrícia. Outro professor que prestou serviços à nossa Clínica , tendo se tornado o primeiro Livre Docente da Cátedra de Obstetrícia, foi o professor Ciro Ciari Junior, que também exerceu a função de assistente e, a partir da década de 70, Professor Titular de Saúde Materna da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. 

Em 1943, ao instalar-se no 3º andar do então parcialmente inaugurado Hospital São Paulo, transformou-se na Primeira Maternidade Escola de São Paulo, ou seja, alojada no primeiro hospital geral com escopo didático. Com o término da construção, a maternidade se instalou definitivamente no 8º andar. Em Janeiro de 1960, a Obstetrícia integrou-se à Residência Médica; até hoje, 129 médicos concursados receberam o título de Residente. Vários deles ingressaram na carreira universitária, em nossa ou em outras Universidades do país. 

Ainda sob a vigência do professor Guimarães cumpre ressaltar, como fato de grande importância assistencial, os serviços prestados pela Obstetrícia à entidade Amparo Maternal, criada em 1939. Situada próxima à Escola, com o propósito de dar assistência à mãe solteira, era utilizada para o aprendizado prático da Disciplina, e ao curso de Especialização de enfermeiras obstétricas da então Escola Paulista de Enfermagem, posteriormente anexada como Departamento à Escola Paulista de Medicina. 

A evolução natural da ciência fez com que serviços médicos se associassem como a instalação de Disciplina de Neonatologia, onde a pesquisa e o ensino, ao lado da assistência, tem sido responsável pelo alto padrão de produção e aprendizado. Também a Ginecologia, que visa igualmente a reprodução humana, é nossa associada no serviço de planejamento familiar, a nível de ambulatório. Estas atividades até há pouco tempo, eram prestadas conjuntamente à Associação Amparo Maternal, à qual a Disciplina de Obstetrícia prestou relevantes serviços, desde a sua instalação em 1939. 

Para a execução dos trabalhos de assistência, e ensino, tivemos a contribuição inegável de vários professores, alguns deles nos deixaram por motivos de força maior, ou pela aposentadoria; assim devemos nos lembrar de Atair Pereira, Octavio D’Andreia, Ney da Rocha Miranda, Jaime Luiz Kuperman, Awad Damha, Samir Arap, Antonio Guariento, Caetano Giordano, Antonio Suzart de Andrade, Rubens Angulo e Helio Luiz Medaglia.

Em janeiro de 1966, por concurso, assumiu a posição de Professor Titular, o professor Domingos Delascio, até então Professor Adjunto. Iniciou-se assim, nova fase, de intenso dinamismo na Disciplina, na qual quase todos os professores foram titulados, primeiramente através de doutoramentos, dos quais 14 deles atingiram o grau de Livre Docente, a saber, Luiz Camano, Luiz Kulay Junior, Sebastão Piatto, Henrique Paraventi, Pedro Augusto Marcondes de Almeida, Caetano Giordano, Antonio Suzart Andrade, Laurival De Lucca, Mario Dolnikoff, Dib El Kadre, Antonio Rozas, Geraldo Rodrigues de Lima, Antonio Rubino de Azevedo, alguns deles, tendo atingido ao cargo de Titulares em várias escolas médicas. 

A partir de dezembro de 1979, instalou-se o curso de Pós-Graduação nos moldes atuais, quando em junho de 1980, foi defendida a primeira tese de Doutorado em Obstetrícia, pela Dr. Maria Nice Caly Kulay. Com ele, estendeu-se a contribuição da Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina, tanto à titulação de profissionais aqui graduados, como também a outros advindos de várias unidades federais e privadas. 

Continuamos, agora, com a titulação de Mestres e Doutores, contribuindo para a formação de muitos docentes e pesquisadores. Sob a regência do Professor Delascio, também por aqui passaram muitos estagiários, e é louvada sua grande contribuição na formação de especialistas, neste sentido devemos ainda acrescentar, que a cada dois anos é também ministrado o Curso de Reciclagem em Obstetrícia, que recebe centenas de médicos que buscam conhecimentos com a finalidade de obter, através de provas a o Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO). 

Seus ensinamentos, também foram ministrados na Casa Maternal e da Infância Leonor Mendes de Barros, onde foi diretor por muitos anos, e responsável pela publicação científica da Revista Maternidade e Infância. 

Até os dias de hoje, nosso curso de Pós-Graduação titulou 95 médicos, a saber: 69 Mestres, (28 em obstetrícia normal e experimental – 41 em obstetrícia clínica patológica e tocurgia) e 26 Doutores (11 em obstetrícia normal e experimental – 15 em obstetrícia clínica, patológica e tococirurgia). 

O professor Domingos Delascio, pelo seu elevado padrão de ensino, teve o reconhecimento de todos os alunos desta Escola, tendo sido agraciado por inúmeras vezes, com o título de professor paraninfo, homenageado ou patrono de quase todas as turmas. Deixou também sua grande contribuição através de publicações em revistas médicas e principalmente de livros didáticos da especialidade, onde deu oportunidade de colaboração aos seus assistentes Empossou, ainda, três Titulares: os professores Henrique Ambrósio Paraventi, Luiz Camano e Luiz Kulay Junior. e se aposentou compulsoriamente em 1983. 

O professor Paraventi, formado em 1942 e já titulado Livre Docente desde 1974, foi empossado como professor titular em 1978. Abnegado, trabalhando em dedicação exclusiva, dedicou-se ao ensino, à assistência e principalmente à pesquisa, tendo sido o criador da Obstetrícia Experimental no nosso meio. Foi o baluarte da Bioética na Disciplina após a aposentadoria do professor Álvaro Guimarães Filho, e o mentor da instalação do Curso de Pós-Graduação, tendo sido seu Coordenador até a aposentadoria compulsória, em 1984. 

O professor Luiz Camano, logo após sua formatura em nossa Escola, em 1956, ingressou na Cadeira como plantonista, e posteriormente preceptor de várias turmas de residentes. A par disso, foi durante muitos anos chefe de equipe da Casa Maternal Leonor Mendes de Barros Como Professor Assistente, defendeu tese de Doutoramento em 1968, e Livre Docência em 1973. Graças a sua atuação no campo do ensino, assistência e pesquisa, construiu um currículo que o habilitou a conquistar o cargo de Professor Titular em 1982. Desde então, exerceu várias funções como Chefe de Departamento e Disciplina, e, até hoje, coordena o curso de Graduação. 

O professor Luiz Kulay Junior, formado nesta Escola, em 1959, fez parte da primeira turma de residentes, e defendeu tese de Doutoramento em 1965 e Livre Docência em 1973. Estagiou em 1967 no serviço do professor Hermogenes Alvarez (Uruguai), Permaneceu durante 12 anos na Disciplina de Histologia, do Departamento de Morfologia desta Escola, onde, dinamizando a pesquisa experimental, ampliou seu currículo que o tornou apto a concorrer ao cargo de Professor Titular de Obstetrícia, aprovado em 1982 O professor Kulay, a partir de então vem coordenando a Comissão de Ensino de Pós-Graduação (CEPG) de Obstetrícia. 

Após a jubilação dos professores, Delascio e Paraventi, os atuais titulares têm dado continuidade às várias atividades implementando a assistência, consequentemente a produção, criando novos setores . Atualmente, todos os Docentes são titulados, Mestres e Doutores, dando continuidade às suas carreiras, desenvolvendo suas Linhas de Pesquisa que se confundem com os princípios básicos na especialidade, no Ensino, Assistência e Pesquisa.

Prof. Dr. Luiz Camano e Prof. Dr. Luiz Kulay Junior

Professores Titulares do Departamento de Obstetrícia/EPM-UNIFESP

Escola Paulista de Medicina – UNIFESP
São Paulo – maio 2013

 

A história da Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina remonta desde a data de sua fundação em 1933, inicialmente como Disciplina do Departamento de Tocoginecologia e a partir do ano de 2000, como Departamento de Obstetrícia, constituído por três disciplinas: Disciplina de Obstetrícia Fisiológica e Experimental, Disciplina de Patologia Obstétrica e Tocurgia e Disciplina de Medicina Fetal.

O Departamento de Obstetrícia tem sido depositário da experiência e conhecimentos auferidos nestes oitenta anos construídos pelo trabalho, de extrema relevância, de vários professores, médicos e profissionais de saúde e que tem servido para a formação e capacitação de indivíduos que atuam na assistência, ensino e pesquisa em nosso país e no exterior.

Obstetrícia envolve um conjunto de cuidados dedicados à mulher e a sua família, permitindo o planejamento adequado da gestação, parto e puerpério, através de procedimentos padronizados e de qualidade, resguardando a sua saúde materna durante todo este processo. Ao mesmo tempo, estabelece meios desde a concepção, desenvolvimento e crescimento do feto visando a preservação de todas as suas capacidades, preparando-o para a vida após o nascimento. A importância da Obstetrícia é atestada pelo uso dos resultados materno, fetal e neonatal, como indicadores de qualidade de vida e saúde de uma sociedade, assumindo um paralelismo com os cuidados médicos dedicados à população.

A Obstetrícia apresentou evolução expressiva nos últimos anos, tornando-se difícil acompanhar todos os seus avanços nas diferentes áreas do conhecimento. Atualmente enfrenta grandes desafios impostos pelas exigências de qualidade, segurança e satisfação da sociedade, e se vê limitada pelos custos e orçamentos do sistema público de saúde e da medicina suplementar. Neste cenário, a prática obstétrica em nosso país tornou-se complexa exigindo aprimoramento constante e ajustes às normas de auditorias de qualidade.

A segurança na prática obstétrica assume relevância para uma assistência eficiente centrada no bem estar do paciente e de sua família. O desenvolvimento de uma cultura de segurança baseada na liderança dos profissionais, protocolos confiáveis, trabalho em equipe, apoio institucional torna-se fundamental para minimizar as morbidades, morbidades e constrangimentos da assistência perinatal. Para tornar a assistência segura é fundamental a formação adequada dos profissionais na graduação, residência médica e nas especializações associada ao processo de educação continuada com participação dos Conselhos de classe e das Sociedades especializadas. Neste sentido, esperamos estar contribuindo para a capacitação e valorização destes profissionais que, imbuídos de um espírito otimista e inovador, procuram construir um sistema de saúde brasileiro justo e de melhor qualidade voltado para à saúde da mulher e da criança e que seja acessível a todas as pessoas.

Prof. Dr. Antonio Fernandes Moron
Professor Titular do Departamento de Obstetrícia
Escola Paulista de Medicina – UNIFESP
São Paulo – maio 2013

 

Ainda que tenha havido progressos significativos na área da Obstetrícia com avanços tecnológicos importantes, a satisfação da gestante, no seu atendimento, não atingiu o ideal. De fato, existem pontos a serem pesquisados e compreendidos, mesmo nessa gravidez fisiológica: ainda não se conhece claramente o que desencadeia o parto e nem sempre a via de parto planejada é o que de fato ocorre. A transdisciplinaridade, muito falada na ciência, hoje, com melhor compreensão do ser humano multidimensional, pode contribuir para a obstetrícia. Assim, seguiremos trilhando esse caminho que possibilite cada vez mais, dar mais luz: ao conhecimento e à assistência, não deixando nunca de lado, envolvimento acolhedor dos profissionais às mulheres, nesse momento crítico da vida: a parturição.

Profa. Dra. Mary Uchiyama Nakamura
Professora Titular do Departamento de Obstetrícia
Escola Paulista de Medicina – UNIFESP
São Paulo – janeiro 2018