Uma mulher morre a cada dois minutos devido à gravidez ou ao parto, segundo agências da ONU

Uma mulher morre a cada dois minutos devido à gravidez ou ao parto, segundo agências da ONU

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Genebra/Nova Iorque/Washington, 23 de fevereiro de 2023 – A cada dois minutos, uma mulher morre durante a gravidez ou o parto, de acordo com as últimas estimativas divulgadas em um relatório das agências das Nações Unidas hoje. Esse relatório, Tendências na mortalidade materna (Trends in maternal mortality – disponível somente em inglês), revela retrocessos alarmantes para a saúde das mulheres nos últimos anos, uma vez que as mortes maternas aumentaram ou estagnaram em quase todas as regiões do mundo.

“Embora a gravidez deva ser um momento de imensa esperança e uma experiência positiva para todas as mulheres, tragicamente ainda é uma experiência chocantemente perigosa para milhões de pessoas em todo o mundo que não têm acesso a cuidados de saúde respeitosos e de alta qualidade”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Essas novas estatísticas revelam a necessidade urgente de se garantir que todas as mulheres e meninas tenham acesso a serviços de saúde críticos antes, durante e após o parto, e que possam exercer plenamente seus direitos reprodutivos”.

O relatório – que rastreia as mortes maternas nacional, regional e globalmente de 2000 a 2020 – mostra que houve uma estimativa de 287 mil mortes maternas em todo o mundo em 2020. Isso marca apenas uma ligeira diminuição das 309 mil mortes em 2016, quando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU entraram em vigor. Embora o relatório apresente algum progresso significativo na redução das mortes maternas entre 2000 e 2015, os avanços estancaram em grande medida, ou, em alguns casos, até retrocederam a partir desse ponto.

Em duas das oito regiões da ONU – Europa e América do Norte e América Latina e Caribe –, a taxa de mortalidade materna aumentou entre 2016 e 2020, 17% e 15%, respectivamente. Em outros lugares, a taxa estagnou. O relatório observa, no entanto, que o progresso é possível. Por exemplo, duas regiões – Austrália e Nova Zelândia e Ásia Central e Meridional – experimentaram declínios significativos (em 35% e 16%, respectivamente) em suas taxas de mortalidade materna durante o mesmo período, assim como 31 países em todo o mundo.

FOTO: UNICEF/UN0541828/Satu
Jahan, de 18 anos, deu à luz seu primeiro bebê com o apoio de um centro de saúde primária do UNICEF nos campos de refugiados rohingyas em Bangladesh.

“Para milhões de famílias, o milagre do parto é prejudicado pela tragédia das mortes maternas”, disse a diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell. “Nenhuma mãe deveria temer por sua vida ao trazer um bebê ao mundo, especialmente quando existem conhecimentos e ferramentas para tratar complicações comuns. A equidade na saúde oferece a todas as mães, não importa quem sejam ou onde estejam, uma chance justa de um parto seguro e um futuro saudável com sua família”.

Em números totais, as mortes maternas continuam amplamente concentradas nas partes mais pobres do mundo e em países afetados por conflitos. Em 2020, cerca de 70% de todas as mortes maternas ocorreram na África ao sul do Saara. Em nove países que enfrentam graves crises humanitárias, as taxas de mortalidade materna foram mais que o dobro da média mundial (551 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos, em comparação com 223 globalmente).

“Este relatório fornece mais um lembrete da necessidade urgente de dobrar nosso compromisso com a saúde das mulheres e adolescentes”, disse Juan Pablo Uribe, diretor global de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial e diretor do Mecanismo de Financiamento Global. “Com ação imediata, mais investimentos em cuidados primários de saúde e sistemas de saúde mais fortes e resilientes, podemos salvar vidas, melhorar a saúde e o bem-estar e promover os direitos e oportunidades para mulheres e adolescentes”.

Sangramento grave, pressão alta, infecções relacionadas à gravidez, complicações de aborto inseguro e condições subjacentes que podem ser agravadas pela gravidez (como HIV/aids e malária) são as principais causas de mortes maternas. Tudo isso é amplamente evitável e tratável com acesso a cuidados de saúde respeitosos e de alta qualidade.

A atenção primária à saúde centrada na comunidade pode atender às necessidades de mulheres, crianças e adolescentes e permitir o acesso equitativo a serviços críticos, como partos assistidos e cuidados pré-natais e pós-natais, vacinação infantil, nutrição e planejamento familiar. No entanto, o subfinanciamento dos sistemas de atenção primária à saúde, a falta de profissionais de saúde treinados e a precariedade das cadeias de abastecimento de produtos médicos estão ameaçando o progresso.

Aproximadamente um terço das mulheres não faz nem quatro dos oito exames pré-natais recomendados ou recebe cuidados pós-natais essenciais, enquanto cerca de 270 milhões de mulheres não têm acesso a métodos modernos de planejamento familiar. Exercer controle sobre sua saúde reprodutiva – particularmente decisões sobre se e quando ter filhos – é fundamental para garantir que as mulheres possam planejar e espaçar a gravidez e proteger sua saúde. As desigualdades relacionadas a renda, educação, raça ou etnia aumentam ainda mais os riscos para mulheres grávidas marginalizadas, que têm menos acesso a cuidados essenciais de maternidade, mas têm maior probabilidade de apresentar problemas de saúde subjacentes durante a gravidez.

“É inaceitável que tantas mulheres continuem morrendo desnecessariamente durante a gravidez e o parto. Mais de 280 mil mortes em um único ano são inconcebíveis”, disse a diretora executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Natalia Kanem. “Podemos e devemos fazer melhor investindo urgentemente em planejamento familiar e suprindo a escassez global de 900 mil parteiras para que todas as mulheres possam receber os cuidados vitais de que precisam. Temos as ferramentas, o conhecimento e os recursos para acabar com as mortes maternas evitáveis; do que precisamos agora é vontade política”.

A pandemia de covid-19 pode ter retardado ainda mais o progresso na saúde materna. Observando que a série de dados atual termina em 2020, mais dados serão necessários para mostrar os verdadeiros impactos da pandemia nas mortes maternas. No entanto, as infecções por covid-19 podem aumentar os riscos durante a gravidez, portanto, os países devem tomar medidas para garantir que as mulheres grávidas e as que planejam engravidar tenham acesso a vacinas contra a covid-19 e cuidados pré-natais eficazes.

“Reduzir a mortalidade materna continua sendo um dos desafios globais de saúde mais prementes”, disse John Wilmoth, diretor da Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas. “Acabar com as mortes maternas evitáveis e fornecer acesso universal a cuidados de saúde materna de qualidade requer esforços nacionais e internacionais sustentados e compromissos inabaláveis, especialmente para as populações mais vulneráveis. É nossa responsabilidade coletiva garantir que todas as mães, em todos os lugares, sobrevivam ao parto, para que elas e seus filhos e filhas possam prosperar”.

O relatório revela que o mundo deve acelerar significativamente o progresso para atingir as metas globais de redução das mortes maternas, ou então colocar em risco a vida de mais de 1 milhão de mulheres até 2030.

 

Fonte: Imprensa Unifesp

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